segunda-feira, 2 de abril de 2012


Os melhores álbuns nacionais de 2011 (10-01)

10. The Baggios – The Baggios
Com influências de Black Keys à Raul Seixas – duas figuras completamente distantes, mas que se encaixam musicalmente – percorrem por todas as músicas que, com ótimo riffs de guitarras e uma boa produção que procura retratar um boa mistura de sons das décadas de sessenta e setenta como blues, soul e o hardrock. O álbum homônimo possui 14 faixas – sendo duas faixas em inglês e todas as outras em português - foi lançado pelo selo Vigilante (selo da Deck). Uma surpresa no disco é  a participação do vocalista da banda Vanguart, Hélio Flanders, na música “Morro da Saudade” .  Os destaques do álbum ficam por conta das músicas “O Azar Me Consome”, “Aqui Vou Eu” e “Em Outras”.
“O Azar me Consome”
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09. Boa Parte De Mim Vai Embora – Vanguart
Depois de cinco anos vermelho, finalmente o semáforo disse “siga” para mais uma produção do Vanguart. Aqueles que gostaram do primeiro trabalho homônimo da banda podem ter ficado assustados quando, durante todo esse tempo, a única notícia que tinham sobre a produção da banda eram através de entrevistas e declarações de Hélio Flanders (vocais) falando sobre um disco mais experimental.
Sair do folk engraçadinho que inspirou a Mallu Magalhães para um oposto poderia não ser uma alternativa muito boa, até que o “Boa Parte de Mim Vai Embora” chegou para concretizar os caminhos que a banda tentava verbalizar através da expressão “experimental”. Ao contrário do primeiro disco da banda, este segue prezando pelas composições em português -exceto por alguns trechos em espanhol na canção de abertura “Mi Vida Eres Tu“-, agora com suas composições menos fantásticas e mais realistas, como em “Se Tiver Que Ser na Bala Vai” e nas batidas country de “…Das Lágrimas“, os cuiabanos evoluem sua produção com estre àlbum que tem músicas fantásticas entre as 13 faixas da tracklist. (Flávia Tabosa)
“Depressa”
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08. De Verdade – Nevilton 
Compilando as produções anteriormente lançadas em EPs com algumas inéditas e lançando um disco “De Verdade“, o Nevilton traz a nossos ouvidos produções típicas do rock nacional, principalmente quando “A Máscara” começa a ser executada. Partindo do pressuposto de que o rock nacional é constituido sem fronteiras e preconceitos, o trio formado por Nevilton Alencar (guitarra e vocais), Thiago Lobão (baixo e vocais) e Flipi Stripp vão além das batidas nacionais e citam grandes as grandes bandas Ramones e Nirvana em “Bolo Especial” e conquistam definitivamente o público com a canção “Pressuposto“, que começa a mostrar a identidade da banda além de suas influências e abrindo espaço para as faixas “Fortuna” e “Me Espere Menino Lobo” explodirem. É a atualização que o rock nacional estava precisando. (Flávia Tabosa)
“Pressuposto”
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07. Que isso fique entre nós – Pélico
Os instrumentos como bumbo, sanfona, trompete, trombone e violino podem até enganar – pela sonoridade – e fazer de “Que Isso Fique Entre Nós” um disco feliz, quase alegre. Mas não se deixe levar assim tão fácil: basta prestar um pouco de atenção as letras para perceber que o cantor paulistano Pélico abre a caixinha de pandora pra exorcizar, em 16 faixas, as tristezas, raivas, agonias e melancolias de um intenso e relacionamento amoroso (de cinco anos, como disse em entrevista à Rolling Stone).
O tema pode não surpreender, mas os artifícios musicais que Pélico usa dá a cada canção um significado diferente, não deixando o disco cansativo (pelas dezesseis faixas). Terceiro registro do cantor (que já vinha com dois EPs e dois discos lançados) produzido por Jesus Sanche, “Que Isso Fique Entre Nós” traz como destaque as músicas “Não Éramos Tão”, “Não Vou Te Deixar, Por Enquanto” e a que o cantor dedicou ao pai, intitulada “O Menino”. Nessa, ele canta: “e entendeu que a paixão são fragmentos de amor em um velho colchão”. (Jessica Figueiredo)
“Não Éramos Tão Assim”
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06. Doozicabra e a revolução silenciosa – Emicida
Considerado artista do ano (2011) pela MTV brasileira, o rapper que já mordeu cachorro por comida  e cometeu graves emicídios com suas rimas rápidas e impedosas acabou nos apresentando a reforma agrária da música brasileira. Emicida sai (não totalmente) de suas produções caseiras lançadas pelo seu selo Laboratório Fantasma e cria uma revolução silenciosa. Gravado entre NY e SP seu novo disco de inéditas, compilado com sete faixas produzidas e finalizadas por K-Salaam e BeatNick, o rapper pensou em estratégias sagazes para divulgar seu material e usou a tecnologia como aliada forte para esse trabalho. Transformando suas ondas cerebrais em imagem, enquanto rimava com palavras twitadas, chamou a atenção do Creators Project, que financiou o “Doozicabra e a Revolução Silenciosa” e o levou para o festival Coachella.
A divulgação e popularização do rap produzido no Brasil se deve muito a esse cara, que apesar de estar conseguindo muito apoio, não esquece a dura realidade em que cresceu e, neste trabalho, convida vários rappers para a dura tarefa de gritar essa dureza para o mundo. MV Bill, Paola, Rael da Rima, Fabiana Cozza e mais nomes estão em músicas que retratam esse cotidiano, seja através de onomatopéias como em “Cariacô” ou por palavras duras, como em “Canção Para os Meus Amigos Mortos“. (Flávia Tabosa)
“Num É Só Ver”
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05. Canções de Guerra – Pública
O mais novo álbum dos gaúchos do pública é com certeza um dos mais importantes lançamentos do ano.  Um disco com uma temática forte como “Canções de Guerra” trazem sentimentos de nostalgia a tona dos tempos de guerras de uma década como à de 40 com as melhores letras que o Pedro Meltzjá produziu. O sucessor de “Como Num Filme Sem Fim” (2009) marca os 10 anos do grupo Pública da melhor forma possível. Músicas como “Das coisas que não fui”, “Corpo Fechado”, “Cartas de Guerra” e  ”Pouca Estrada para Cedo Envelhecer” mostra uma grande diferença da banda a outras do estilo britpop.
“Corpo Fechado”
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04. Música Vulgar Para Corações Surdos – Harmada
Ilustrado por Pedro Moura e a arte por conta de Tatiana Vidal, o “Música Vulgar para Corações Surdos” tem um dos encartes mais simples e caprichosos dentre todas as produções deste ano, com cores aquareladas e traços fortes. Além dos encartes, entra numa linha de criação totalmente detalhada, os integrantes Manoel Magalhães, Brynner Buçard, Juliana Goulart eFilipi Cavalcante tomam por base de criação a “Harmada” do escritor João Gilberto Noll, romance de 1993 em que o protagonista se afunda em pensamentos conturbados e utiliza a capital que tem o nome da banda como amparo para suas vagueações esquizofrênicas. Para expandir a Harmada em vários personagens, a música vulgar  tenta alertar corações que estão ficando surdos: a música e recepção precisam de um encontro íntimo. Seja à luz de velas no “Bairro Peixoto“, seja no “Hospital“, na “Avenida Dopsie”, ao som de “Sirenes e Alarmes” ou apenas entre “Carlos e Cecília“. Composições incríveis, músicos excelentes e uma das melhores produções nacionais de 2011. (Flávia Tabosa)
“Corações Surdos”
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03. Nó na orelha – Criolo
Em termos de referência, digamos que “Nó na Orelha”, segundo disco do Criolo, entra fácil no páreo de “melhores” ou “mais importantes” discos de 2011. Diferenciando-se, em termos de textura musical, do Emicida e seu “Doozicabraba e a Revolução Silenciosa”, mesmo que em proporções menores e diferentes (o cantor não conseguiu tamanho reconhecimento como o Emicida, nem está em praticamente todos os festivais de grande  escala no Brasil, muito menos ganhou um programa exclusivo na MTV), “Nó Na Orelha” ainda assim serve de referencia na música brasileira por ter despertado em muitos a curiosidade de ouvir um hip hop mesclado a outros ritmos, diferente de muito do que já foi produzido nesse ou em outros anos.
Misturando violinos e pianos com tamborins do samba e reggae, as letras de “Nó na Orelha” surpreendem o público não conhecedor das composições rap, características por “chocar” ou “cutucar” a sociedade. Nisso, o disco agrada os dois tipos de ouvintes: tanto quem é fã de, digamos, Racionais MCs, quanto quem se deixa levar pelos pianos com batidas eletrônicas atrás de letras simples, porém duras. (Jessica Figueiredo)
“Não Existe Amor em SP”
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02. Canções de apartamento – Cícero
Um músico que mora sozinho, acompanhado apenas de seus muitos instrumentos e de sua boa discografia (de Radiohead à Caetano, passando por Strokes), um belo dia decide fazer um disco. Escreve as letras, tira as melodias e convida alguns amigos para “enriquecê-las” com violões, bandolins, baterias, pianinhos, entre outros instrumentos de beleza inconfundível. Pode ser impossível, mas assim foi feito “Canções de Apartamento”, disco de estréia do Cícero, ex integrante da banda carioca Alice.
Suavemente flertando com músicos tão intimistas quanto ele, o disco passeia entre o Little Joy do Rodrigo Amarante e o carnaval do Marcelo Camelo, além de trazer inspirações em gênios como Milton Nascimento e Tom Jobim, influências claras principalmente nos instrumentais. Especial para dias de chuva que não são tristes, mas reflexivos como ela o deixa ser, o álbum é um verdadeiro convite ao apartamento do músico que, acompanhado de seus amigos Bruno Schulz (acordeon e piano) e Paulo Marinho (bateria), te faz entrar, dá espaço para tu sentar, serve um café recém-feito e deixa que a conversa e música aconteçam juntas, de forma fácil e simples, por belíssimas 1o faixas. (Jessica Figueiredo)
“Tempo de Pípa”
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01.  Samba 808 – Wado
Talvez o artista que melhor se enquadre na definição “independente” atualmente. Fora “Atlântico Negro”, disco de 2009 que ganhou o Projeto Pixinguinha (e deu liberdade para que o artista investisse na qualidade das músicas), toda discografia do Wado foi lançada por selos independentes. A realidade não pareceu ter mudado mesmo quase dez anos depois, mas o mesmo não se aplica à qualidade musical do trabalho do alagoano. Quando foram surgindo os boatos de que o novo disco do Wado viria cheio de participações especiais, houve controvérsias. “Tá quase um Wado Convida“, contou ele ao Coletivo Mundo, remetendo ao nome do Festival Móveis Convida, em Brasília.
Para os radicais e caretas, chamar amigos e artistas para participar de um disco pode “destruir o disco”, desmerecendo a originalidade das músicas. No entanto, a regra não se aplicou a Wado, que deu à esse ano um excelente presente. Contando com a presença de gente como Zeca BaleiroMarcelo Camelo & Mallu MagalhãesFábio Góes, Fernando Anitelli e outros, ”Samba 808″ não se deixa levar pelos estilos musicais dos convidados e não perde o sentido “Wado”, apresentando uma boa forma.
Além de te fazer bailar e se apaixonar nas pérolas do disco (“Si Próprio”, faixa que abre, tem um “buraco preenchido” por Zeca Baleiro e “Com a Ponta Dos Dedos” é uma delicia quando acompanhada pelas vozes do casal Camelo & Magalhães), o disco ainda vai te colocar pra requebrar na loucura psicótica de “Não Pára”  e te fazer batucar nas baterias e bumbos de “Esqueleto” (parceria com Curumin). (Jessica Figueiredo)

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