quinta-feira, 2 de agosto de 2012

NAPALM! UMA DAS CASAS NOTURNAS MAIS EMBLEMÁTICAS DE SP


Napalm!

Clemente Nascimento foi testemunha do nascimento, sucesso e implosão de uma das casas noturnas paulistanas mais importantes da década de 1980, fundada em 28 de julho de 1983.
O apresentador do showlivre conta um pouco da experiência e dos personagens do Napalm.
“Quando em algum dia de 1983, fui convidado por Ricardo Lobo para trabalhar no Napalm, a casa noturna não passava de um projeto ainda a ser realizado num galpão de uma gráfica na Rua Marques de Itu, centro de São Paulo, e também não passava pela minha cabeça que estaria trabalhando numa das casas mais emblemáticas da então recém inaugurada década de 1980.
Além de mim, vários outros punks trabalharam lá em funções que iam de barman a porteiro, entre eles o João Gordo do Ratos de Porão e Mingau que hoje toca no Ultraje a Rigor, participamos de todas as fases, derrubamos paredes, montamos balcão, pintamos tudo e enchemos o forro de papelão para ajudar no isolamento acústico, o que tornou o nome Napalm mais que apropriado, pois bastaria uma fagulha para tudo aquilo virar fumaça em segundos, e é claro que estávamos lá na última noite, quando Ricardo Lobo preparou um caldeirão misturando todas as bebidas que haviam sobrado e nós entornamos aquela mistura até as sete horas da manhã, num verdadeiro “gran finale”.
A casa funcionou efetivamente durante 50 noites e foram realizados shows realmente marcantes. Destas 50 noites, posso afirmar com certeza, que fui no mínimo a 49 delas, desde a abertura, que foi no dia 28 de julho de 1983 em que toquei com os Inocentes e ainda teve as Mercenárias até o dia do fechamento. Lembro que nesse dia resolvemos no camarim terminar a banda e anunciamos isso durante o show. Foi uma comoção geral e enquanto tocávamos a música “Miséria e Fome”, até então pela última vez, as meninas choravam e os rapazes nos xingavam revoltados. A banda voltou um ano depois e o resto todo mundo sabe…
Por lá ainda passaram Titãs, Ultraje a Rigor, Ira todas ainda novatas e cheias de energia, muitas saiam do palco contratadas pela Warner -o produtor Peninha Schimidt estava sempre por lá, tinham ainda as bandas que não chegaram a ser conhecidas pelo grande público, mas, que deixaram suas marcas indeléveis no rock nacional, como o Coqueluxe, Azul 29, Voluntários da Pátria entre outras, que traziam em suas formações figuras que vieram despontar mais tarde já com outras bandas, caso do Fernando Deluqui que estreou no Napalm com o Ignose, mas ficou conhecido mesmo como guitarrista do RPM anos depois.
Foi lá no Napalm que o rock de Brasília foi apresentado a São Paulo, tive o prazer de receber as duas bandas que tocaram juntas nessa noite: Legião Urbana e Plebe Rude. E me surpreendi ao ver a cara de bons moços daquela rapaziada bem nascida da capital federal, pensei comigo: “esses caras não sobrevivem por 10 minutos nas ruas de São Paulo”.
Legião Urbana no Napalm
Conheci várias figuras interessantes que frequentavam a casa quase todas as noites, como um cadeirante animado, que anos depois descobrimos que era o escritor Marcelo Rubens Paiva, um estudante da USP que virou fotógrafo, chamado Rui Mendes, um moleque metido a DJ e que não sabia fritar um ovo, o Alezinho, hoje mais conhecido como Alex Atala, a fotógrafa Vânia Toledo e várias outras figuras interessantíssimas.
Além dos shows ao vivo, curtíamos uma das grandes febres daquele momento, o vídeo clipe, com a exibição em TVs espalhadas pela casa que também animavam a disputadíssima pista de dança que fervia até altas horas.
O Napalm não ganhou a mesma aura mística que hoje envolve o Madame Satan, mas isso não tira sua importância e seu pioneirismo, numa época de novidades e maneirismos, em que não era nem fácil e nem simples ser moderno.”

5 comentários:

  1. Legal, eu tinha 22 anos nessa época! Vi uma reportagem do NAPALM ontem no canal BIS e achei muito legal recordar os bons tempos dos anos 80. Apesar de eu ouvir e gostar só de Rock Internacional, respeito as Bandas Nacionais que passaram por essa casa. "São Paulo, Terra da garoa e dos bons e velhos anos 80". Parabéns ao Ricardo Lobo!!!!

    Ariovaldo Pradella

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  2. lembra qual o numero do lugar, na marques de itu?

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  3. Esse lugar eu frequentei, so posso dizer ou comparar com CBGB a Paulistana!

    Sandro Oliveira, mais de 40 anos...

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  4. Caralho!! E eu só tinha 3 anos na época kkkkk
    Mas entendo e sinto o qto os anos 80 foram emblemáticos. Um caldeirão de cultura, movimentos e energia acontecendo ao mesmo tempo.
    Queria ter vivido esses movimentos e a noitada paulistana desta época.

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